sábado, 30 de novembro de 2013

A semana da consciência negra em Joinville - porque não tivemos feriado no dia 20?

Sebastião Amaral é servidor público da Prefeitura de Joinville, militante do PSTU Joinville e nosso correspondente. Caso queira entrar em contato, escreva para canaldireto@gmail.com

No ultimo dia 20 de novembro fui fazer uma panfletagem referente ao dia da consciência negra, na frente da maior universidade da região de Joinville(UNIVILLE). Segundo o último censo, a cidade tem quase 20% de negros. Porém na entrada da universidade, só se via brancos. Se haviam negros, era muito menos de 20%.

Não foi de surpreender que o panfleto foi menos aceito que o normal, pela experiência que tenho das outras panfletagens lá. Algumas caras de desdém, como se as pessoas nada tivessem a ver com aquilo, me marcaram.

Joinville, uma cidade onde a burguesia faz questão de fortalecer uma imagem européia, alemã, a cidade do trabalho. É a cidade mais negra de um estado branco, segundo o Censo. Só que não vemos os negros no dia a dia, e muito menos na entrada da Univille, não naquele dia.

Uma cidade cujo prefeito está envolvido em várias denúncias de racismo. Um prefeito que esse ano sancionou o feriado do dia da consciência negra, que logo foi vetado pela justiça, um tema que dividiu a cidade.

A formação histórica da nossa cidade e a grande maioria da população sendo branca acentua o racismo presente aqui. Muitas vezes, enquanto acontecia o debate sobre se era certo ou não o feriado, ouvi frases como ‘precisamos de um feriado da consciência humana’, ‘quero um feriado do dia dos brancos’ ou até que ‘este feriado é como as cotas raciais, um privilégio para os negros’.

O que falar sobre o “Feriado” da consciência negra em Joinville?

Primeiro, a data: trata-se de uma referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da luta e resistência do povo negro contra a escravidão. Mas porque um feriado? Os feriados são datas que a sociedade considera históricos e importantes de lembranças e reflexão. Pergunte para algum cristão se ele aceita o fim do feriado no Natal! Queremos essa data como feriado,não só em Joinville,em todo o Brasil, pois ela seria a incorporação de nossa história, um reconhecimento de que nossa história é feita em grande parte pelo suor e trabalho escravo (índio e principalmente negro) e não simplesmente por ‘descobridores’ brancos europeus. Sabemos que precisamos de muito mais do que isso para combater o racismo, mas é um passo.

Segundo, a sua ‘viabilidade’: as desculpas técnicas usadas pela justiça para proibir a criação do feriado são apenas desculpas. Existe por um lado um interesse da classe burguesa, proprietária das empresas e do comércio em evitar ao máximo pagar qualquer coisa a mais a todos os trabalhadores (brancos ou negros) e ter mais um feriado remunerado é algo que foge completamente aos seus interesses. Por outro lado, a falta de vontade política de assumir a necessidade de discussão da questão racial nos locais de trabalho, estudo e moradia ao longo da cidade, também reflete uma prática sistemática de promover a invisibilidade negra, a quem é negado o acesso os mais diversos espaços, sendo um deles, a Universidade em que estive na semana passada.

A posição da Burguesia local ficou evidente na posição do CDL local e da ACIJ que exigiam do prefeito o veto ao feriado. E entraram na com a ação na justiça que gerou a proibição do feriado.

Ao conceder o feriado, Udo, o prefeito, sabia que o mesmo não ia acontecer. A certeza prévia que o mesmo seria barrado pela justiça, o permitiu fazer uma ação de demagogia para melhorar sua imagem com relação às denúncias de racismo.

O Dia da Consciência Negra não deixará de ser celebrado por nós, com ou sem feriado. Porque sabemos a importância desta discussão, e sabemos que o capitalismo se beneficia enormemente do racismo para dividir e explorar ainda mais a nossa classe de conjunto. Nós sabemos que o racismo só beneficia às classes dominantes, e sabemos que não interessa aos patrões de Joinville (incluindo o nosso prefeito, patrão de centenas de operários fabris) mais um dia de descanso remunerado para os trabalhadores. Ainda mais se esse dia for para reconhecer a importância histórica de todos os negros que ajudaram a erguer o nosso pais, pois isso significaria abrir mão do mito de que não existem negros aqui, e de que nossa cidade só é tão produtiva devido à influência germânica – artifício cultural que leva com que nós aceitemos com mais passividade a exploração e sobrecarga de trabalho a que somos submetidos, dia a dia.

Não deixaremos de ir às portas das Universidades, das fábricas e todos os espaços possíveis discutir que não há capitalismo sem racismo. Não nos deixamos convencer pelos argumentos técnicos para o não-reconhecimento do feriado em Joinville, nem deixamos de denunciar os casos de racismo protagonizados seja pelo nosso Prefeito ou por quem for. Fazemos isso por respeito e reconhecimento à luta de todos os negros deste país, desde sempre oprimidos e explorados. E o fazemos porque sabemos que só assim libertaremos toda a nossa classe da miséria, da exploração e da opressão.

Senhores dirigentes, patrões, políticos e demais interessados em abafar a discussão racial de nossa cidade: acostumem-se com o incômodo. Nós não vamos permitir que os negros continuem a ser escondidos do lado de fora dos empregos, das vagas nas escolas, nas universidades, nos meios de transporte e do centro da cidade. Joinville ainda tem muito o que avançar sobre este assunto, e nós não vamos deixá-lo para depois!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Fragmentos da história do PSOL de Blumenau (sob a ótica do PSTU, claro!)

Obviamente, começar a escrever a história de um partido político em uma cidade é uma tarefa meticulosa se o desejo for realmente o de registrar os fatos para o futuro: não é o caso deste texto! Aqui a pretensão não é outra senão polemizar em torno das qualidades e defeitos do PSOL! Pedimos aos leitores que, por favor, dêem as suas opiniões sobre o que aqui está escrito, fins possamos melhor analisar e entender os fatos sobre este partido que a cada dia adquire maior importância no cenário eleitoral brasileiro, e possivelmente também terá grande importância eleitoral na nossa cidade em tempos vindouros. De modo especial, as pessoas aqui citadas poderiam se manifestar, inclusive expondo as suas divergências com o próprio texto!

Para melhor nos expressarmos, tomamos a liberdade de dividir os fatos em quatro períodos cronológicos, o que não significa que os períodos não tenham uma profunda ligação entre si: tem sim, principalmente no que tange as causas de tantas mudanças de rumo em tão pouco tempo.

Seguindo o exemplo do PSOL nacional, o PSOL blumenauense também já foi várias vezes visto em cenas explícitas de fratricídio político. Aliás, nada a se estranhar para um partido com raízes na classe trabalhadora (portanto, um partido dos explorados desta sociedade) e que se organiza nos moldes da democracia burguesa (portanto, pelo modelo opressor desta sociedade): notem que a contradição é infinita, e só poderia terminar em autofagia! Senão, vejamos:


1) A fundação da sigla em Blumenau deu-se logo em 2005/6 com a entrada de dois grupos de origens bem diferentes: um deles, menor e com menos experiência política, egresso da JPMDB; Este grupo era liderado pelo jovem Eliomar Russi, hoje ocupando cargo de confiança no governo Napoleão (PSDB), o que revela que a “ideologia” e o interesse no PSOL não eram muito compatíveis com esta sigla de oposição de esquerda ao PT. O outro grupo, composto por militantes desde a década de 80, trazia um número razoável de ex-petistas que se auto definiam como marxistas, alguns até mesmo como leninistas, quase todos com expressivas passagens pelos movimentos estudantil e sindical. Este agrupamento tinha duas referências principais: o ex-sindicalista metalúrgico Almir da Silva e o ex-candidato a vereador (bem votado em 2004) Valdecir Menguarda. Note, portanto, tratar-se de um grupo mais afinado com o que era o caráter do PSOL em seu berço: um racha à esquerda do PT.

Para espanto dos observadores, os dois grupos entenderam-se muito bem entre si, apesar de suas diferenças de passado. Mas, para espanto ainda maior, desentenderam-se mesmo foi com o PSOL, mais precisamente com as direções estaduais e nacionais da sigla “socialista e libertária”: mal fizeram a campanha de Heloísa Helena para a presidência da república e não moveram sequer uma palha por qualquer outra candidatura de seu partido naquelas eleições! Como punição, foram calados pela direção nacional do PSOL por dois anos, o que fez com que se retirassem da sigla. Migraram unidos para o PDT, e de lá, finalmente racharam em duas fatias (correspondentes aos grupos iniciais). Hoje, um grupo simplesmente já nem mais existe, e o outro (com ligações familiares e políticas), faz parte do PMDB e ocupam cargos no governo.

2) Depois, surgiu a liderança de Dari Diehl: honesto, proveniente de uma sigla ainda mais a esquerda do que o PSOL (havia sido nosso principal porta-voz e também dirigente), mas portador de um grave defeito para quem aspira um cargo político pela via eleitoral burguesa: sem a capacidade de aglutinar em torno de seu projeto.Foi este o período em que o PSOL blumenauense mais se aproximou do projeto fundacional da agremiação: a candidatura Dari para prefeito (2008) teve uma campanha de caráter classista! E mais: ainda melhor que o próprio perfil nacional do partido, a campanha de Dari foi militante. Nós do PSTU nos orgulhamos de termos colaborado com aquela campanha. Mas, também devido a desentendimentos com as direções estaduais e nacionais, Dari acabou rompendo com o PSOL, na busca de um projeto eleitoreiro mais rápido. Buscou o PT, possivelmente confiante na vitória de Ana Paula nas eleições de 2012: ledo engano!


Já durante o período em que Dari liderava a sigla, os nome de Hartmuth Kraft e Osni Wagner faziam parte da lista de Psolistas blumenauenses, ainda que de uma forma tímida. Ambos também egressos do velho e combativo PT da década de 80 compunham com Dari aquilo que ousamos chamar de “tríade marxista” do PSOL de Blumenau. Harmuth, um líder sindical metalúrgico, e Osni, um professor com passagens diversas (algumas honrosas, outras nem tanto) por vários movimentos sociais, culturais, etc... Com a saída de Dari, a dupla passou a liderar o partido.

3) Inicialmente apresentaram-se com a seguinte conformação: Hartmuth para candidato a prefeito e Osni como presidente da sigla, uma dupla bem afinada entre si. Nós, do PSTU, após algumas conversas, concluímos que seria positivo que nos aliássemos, haja vista que Harmuth se comprometia em fazer uma campanha a serviço da classe trabalhadora e sem nenhuma ligação com os empresários e seus diversos partidos. Para nosso espanto, poucos dias antes do registro de candidaturas, o PSOL troca de candidato a prefeito: entra Osni na vaga de Hartmuth. Por motivos internos ao PSOL, tal troca foi feita as pressas!

Nós, do PSTU, tínhamos preferência pela candidatura operária, mas como Osni também se comprometera com os mesmos princípios, com o mesmo perfil e programa classista que Harmuth havia se comprometido, não havia motivos para que o PSTU rompesse a aliança entre as duas únicas siglas da classe trabalhadora local. E aí, fomos nós que nos enganamos: nas últimas semanas, de modo especial nos últimos dias da campanha eleitoral, Osni Wagner passa a se comportar com uma bengala de apoio a candidatura petista de Ana Paula Lima! A candidatura que deveria representar os trabalhadores se tornou uma candidatura auxiliar da burguesia! Quanto a este fato, já é pública a nossa autocrítica postada aqui neste mesmo blog.

Agora, recentemente, há dois ou três meses passados, também Osni viu-se as turras com as direções estaduais e nacionais do PSOL (note que isto tem sido uma constante nas relações PSOL local e PSOL nacional). Não sabemos exatamente os motivos, mas Osni sofreu sansões, e a partir disso também se retirou do partido. Notícias mais recentes dão conta de que Osni se aproxima do PCB.

Em resumo, foram três direções municipais do PSOL que se retiraram da sigla em conseqüência de mal entendidos com as direções estaduais e nacionais, e isso em parcos 09 anos de existência! Somos forçados a perguntar: será culpa dos dirigentes locais? Se “sim”, então o que há em Blumenau que dificulta a direção local deste partido? Ou será culpa das direções estaduais e nacionais psolistas? Se “sim”, então por que o mesmo não acontece em outros municípios e estados?

Ou ainda, será culpa desta estrutura estranha para um partido que se propõe ao socialismo: a estrutura de priorizar o eleitoral sobre as lutas diretas, a estrutura de submeter-se ao calendário eleitoral como sendo a única atividade de disputa do poder, de querer dizer que se chega ao socialismo pela via eleitoral. Em poucas palavras, esta utopia reacionária que é via unicamente institucional para derrubar as instituições: uma mentira! A culpa de tanta desavença é desta utopia reacionária!

4) Agora, uma quarta liderança aparece para dirigir o PSOL local: trata-se do jovem Hugo Voigt. Ainda que inexperiente na luta externa ao seu partido, já viveu boa parte destas intrigas internas, e parece saber como se comportar para manter-se no poder. Quem viver, verá, ou não!!!!