quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Gerentes da Petrobrás perseguem operário do PSTU na Bacia de Campos

Aderson Bussinger, do Rio de Janeiro (RJ)


De maio de 2003 até agosto de 2014, Clausmar Luiz Siegel, militante do PSTU desde 1999, foi operador na plataforma/navio FSO-38, também conhecida como "P-38". Neste período, liderou várias mobilizações nesta plataforma da Bacia de Campos em campanhas de ACT’s (Acordo Coletivo de Trabalho) e PLR’s (Participação nos Lucros e Resultados). Participou ainda de 4 chapas de oposição à direção do Sindipetro-NF (CUT), foi eleito delegado de base para vários congressos da FUP, da FNP, da Conlutas e da CSP-Conlutas.

Também foi representante dos trabalhadores em dois mandatos de Cipa na P-38, e nas duas eleições foi o candidato mais votado naquele navio. Em 2011 teve a segunda maior votação, em percentual, de toda a Bacia de Campos. Durante estes mandatos, sempre questionou o falso discurso de "segurança em primeiro lugar", muito usado pela gerência da Petrobrás, mobilizando os colegas de trabalho na luta pela prevenção a acidentes e doenças laborais. Foram várias as cobranças de segurança feitas a gerentes, além da organização de abaixo-assinados e boicotes coletivos na emissão de Permissões para Trabalhos.

No exercício da vice-presidência da CIPA, diversas vezes paralisou trabalhos já em curso por estarem sendo realizados fora das normas de segurança do trabalho. E ainda, com base no resultado de uma assembleia sindical, formalizou denúncia contra seus gerentes imediatos junto ao RH corporativo da Petrobrás pela demora na resolução de pendências de segurança. Também deixou de assinar diversas atas de reuniões de CIPA por divergir da redação desvirtuada e tendenciosa. Como profissional, desde 2012 atuou no treinamento de novos operadores e reciclagem de antigos em técnicas e procedimentos de operação de todos os sistemas industriais da P-38.

Em 2013 candidatou-se ao terceiro mandato de CIPA, e a sua inscrição simplesmente "sumiu" do sistema eleitoral digital! Seu nome, misteriosamente, não apareceu na cédula eletrônica. Dai em diante, sucederam-se outras perseguições políticas.

Em agosto de 2014, já no período das eleições gerais (quando as transferências são proibidas nas empresas estatais e de economia mista, e há uma ação judicial sobre este fato) foi avisado que estava sendo transferido, compulsoriamente, de plataforma e de função. Repentinamente, na véspera de um embarque cotidiano no FSO-38 e sem a menor conversa prévia, foi "promovido" a fiscal de contrato internacional. A gerência avisou que passaria a embarcar no FSO-Cidade de Macaé (maior navio no Brasil), da empresa japonesa MODEC e alocado pela Petrobrás, também na Bacia de Campos.

Lá, atuaria em funções gerenciais (fiscalização geral de todas as atividades do navio-plataforma), e seria o único funcionário Petrobrás a bordo. Ou seja, seria isolado politicamente! Por um período inicial, durante seu treinamento na nova função, permaneceria no regime de trabalho de operador (14 dias de embarque X 21 dias de descanso), mas quando assumisse plenamente a nova função, teria seu regime de trabalho mudado para 14 X 28, que é o regime de gerentes e coordenadores embarcados. Também foi avisado da perda do adicional de turno e iniciaria no adicional de sobreaviso: uma diminuição no salário.

No mesmo momento em que era avisado verbalmente da "promoção", Clausmar respondeu que não aceitaria a nova função, e considerava aquela transferência uma perseguição política da gerência da Petrobrás. Sem opção, passou a embarcar no FSO-Cidade de Macaé como "aprendiz de fiscal". Um abaixo-assinado foi feito pedindo o retorno para a P-38 e entregue à gerencia da empresa, mas foi ignorado.

Foram dez embarques nesta condição, sempre trabalhando sob a supervisão de outro fiscal experiente. Deixou claro várias vezes que não concordava com a nova atividade, e que não assumiria a função de fiscal na plenitude. Em julho de 2015, foi convocado para "trabalhar" em terra no Rio de Janeiro, sob o argumento de que os gerentes tentariam uma nova localização de trabalho em plataformas. Clausmar também tentou achar uma nova localização como operador em outras plataformas da Petrobras, mas sem sucesso.

Recentemente, foi comunicado que sofrerá o processo de "desimplante", isto é, será definitivamente colocado para trabalhar em terra, no regime administrativo no Rio, gerando mais uma redução de adicional na folha de pagamento. Como tem sua residência familiar em Santa Catarina, há mais de mil quilômetros do Rio, este "desimplante" inviabiliza a permanência no emprego! Não há como manter a vida pessoal e familiar em Timbó-SC, trabalhando em regime administrativo na capital carioca.

Notem que isso ocorre num período de intenso ataque aos salários e direitos trabalhistas de petroleiros diretos e demissão massiva de terceirizados, num período de intenso ataque à Petrobrás! Ataques estes que visam privatizar o pouco que ainda resta de estatal nesta empresa. Isso ocorre num período em que os roubos da diretoria executiva (Petistas, PMDBista e tucanos) são usados para mentir sobre o futuro da empresa, mascarando a contabilidade e forjando prejuízos, fornecendo falsos argumentos para o aumento dos combustíveis e a privatização.

Notem que não apenas Serra, Cunha, Dilma e Bendine querem terminar de privatizar a Petrobrás, mas que também os gerentes de carreira, alguns tucanos e outros petistas, colaboram com isto! Colaboram na medida em que perseguem politicamente um ativista dos direitos trabalhistas e abnegado militante contra a privatização. Trata-se de um ato antissindical contra um ex-cipeiro, membro da oposição à direção sindical e defensor da FNP (a federação petroleira não atrelada ao governo Dilma)

É lamentável que alguns líderes sindicais das gloriosas greves petroleiras de 1994 e 1995 contra a privatização de FHC, agora sejam gerentes e participem desta perseguição: eles mudaram de lado! Assim como a cúpula do PT, os seus membros também passaram a defender os interesses da burguesia e do imperialismo. Trata-se de uma postura consciente de todos os petistas. É urgente que os petroleiros e seus atuais líderes organizem o desempoderamento do PT, do PMDB e do PSDB na Petrobras, para salvarmos a empresa das garras do imperialismo!


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A falsificação cultural em Blumenau

Hugo Voigt

Estamos iniciando a Oktoberfest 2015, uma festa criada nos anos oitenta que celebra a germanidade da cidade de Blumenau. Mas vamos expor os aspectos históricos que impedem a comemoração desta germanidade.

A primeira Oktoberfest ocorreu no ano de 1984 criada pelo prefeito Dálton dos Reis[1] para recuperar Blumenau da enchente do mesmo ano, a festa foi inspirada em outra que ocorre em Munique. Assim o prefeito Reis conseguiu atrair os olhos do Brasil para nossa cidade, trazendo assim diversos turistas para comemorar algo que não faz parte de suas vidas.

A festa tornou-­se popular nos anos seguintes trazendo cada vez mais turistas, sendo a maior festa do estado e a maior do Brasil, a comemorar a tradição alemã. Mas muito atrás ainda de Munique, no ano onde Oktoberfest de Blumenau mais teve movimento conseguiu reunir mais de 102 mil pessoas, muito atras dos 10 milhões que visitam a Oktoberfest em Munique.

Mas por que esta festa foi criada? No ano de 1810 quando o Rei Luiz I, futuro rei da Baviera se casou com a Princesa Tereza da Saxônia, assim durante o casamento o Luiz I realizou uma corrida de cavalos que atraiu uma grande quantidade de pessoas. Como o aniversário de casamento atraía sempre um público maior, a festa em 1840 foi transferida para Munique. Agora um problema, neste período a Alemanha era uma federação com diversos estados, principados e ducados[2], que sofria com as constantes guerras para unificação, a inflação e outros problemas do regime semifeudal que esta colcha de retalhos vivia, a imigração tornou­-se uma alternativa. Com uma serie de mentiras divulgadas pelo governo brasileiro na Europa, diversos alemães resolveram tentar a sorte no Novo Mundo.

Mas de onde vinham estes alemães? A imensa maioria destes alemães vieram das regiões indústrias da Alemanha principalmente dos estados de Rheinland-­Pfalz, Hessen, Bremem e Hamburgo. Houve também a imigração de um grupo étnico que era chamado de Alemães do Volga[3], que foram expulsos de sua terras no início do seculo XIX.

Assim a imigração não é algo a ser comemorado, pois os motivos que levaram os alemães a abandonar sua terra natal (fome, guerra, inflação) são os mesmos que afetam hoje sírios, líbios e haitianos. Agora os mesmos que durante alguns dias comemoram a falsa germanidade de Blumenau não aceitam a imigração de outros povos que hoje sofrem igual ao imigrante do passado.

Além de cultuar uma falsa germanidade a festa esconde uma parcela importante da imigração de Blumenau como os japoneses, russos, poloneses e italianos. Também não há nenhuma menção aos escravos do herói colonizador Dr. Blumenau.

Assim não podemos comemorar um passado que não existiu e muito menos um futuro que a cada ano fica mais incerto.

[1] Dálton dos Reis foi prefeito de Blumenau durante 1983 a 1988 pelo PMDB.
[2] Apenas no ano de 1870 a Alemanha se torna um estado unificado com a vitoria prussiana na gurra contra a França.
[3] O rio Volga é localizado na parte europeia da Rússia e concentra importante reduto industrial do país.