sexta-feira, 30 de novembro de 2012

História da LIT-QI é lançada em vídeo

Em janeiro de 1982 era fundada a Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional, numa época de grandes convulsões da luta de classes – revolução sandinista, no Irã, revolução política na Polônia, vitória do “socialista” Mitterrand na França, crise econômica mundial. Quais motivos levaram um “punhado” de representantes de vários países a se reunir numa conferência e fundar uma nova organização trotskista internacional? Quem participou, quais países, quais foram as principais decisões?

Em 1985 foi realizado o primeiro congresso da LIT, o único que teve a participação de Nahuel Moreno, o fundador da corrente que passaria a ser conhecida como “morenista”. O que disse Moreno neste congresso? Qual avaliação a LIT fazia da conjuntura mundial de então? Como estavam os partidos da LIT pelo mundo?

Em 2010 é realizado o XX Congresso. Quase 30 anos haviam passado desde sua fundação. Neste período a Liga Internacional conheceria períodos importantes de crescimento de seus partidos, que chegou a ter no MAS (Argentina) o maior partido trotskista do mundo, e períodos de muita crise, como a que quase fez a organização desaparecer nos anos 90, período em que a restauração capitalista nos antigos estados operários confundiu a maior parte da esquerda, com a dissolução da antiga URSS. Mas as bases fundacionais da LIT-CI eram sólidas e ela se reconstruiu e hoje numa nova situação mundial, vive um período de desenvolvimento, com partidos que se inserem na realidade viva da luta de classes na América Latina e na Europa e no qual enfrenta grandes e novos desafios.

Toda esta rica história pode ser agora vista em um vídeo, produzido pela equipe de comunicação do PSTU (Brasil) – sob a coordenação de Lu Cândido – que conta em 46 minutos os fatos que levaram à fundação da LIT-QI, sua evolução, seus “altos e baixos” e o resultado desta luta que leva 30 anos, para a construção de uma internacional centralizada democraticamente, com congressos regulares e direção eleita pelos delegados presentes e que tem o objetivo estratégico de reconstruir a Quarta Internacional tal como fora idealizada por Leon Trotsky: o partido mundial da revolução socialista.

Um trailer do vídeo (que você pode assistir aqui) será apresentado no Ato Internacional de comemoração dos 30 anos da LIT-QI, a ser realizado neste 1º de dezembro em Buenos Aires, quando será iniciada a vendagem do vídeo, narrado em duas línguas – português e espanhol.

Não deixe de adquirir sua cópia, que pode ser encontrada nas sedes e com os militantes dos partidos aderentes à LIT-QI em seu país.



LEIA MAIS:
Ato dos 30 anos da LIT será transmitido ao vivo

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Quais as “novidades” na eleição de 2012?

Foram poucas as novidades que a eleição de 2012 trouxe. A oposição de direita (DEM, PSDB, PPS, etc..) foi derrotada, e os partidos governistas (de modo especial o PT) se fortaleceram. Uma pequena fatia do eleitorado brasileiro começa a votar na oposição de esquerda. O PSOL foi o principal beneficiado por esta pequena fatia eleitoral, crescendo bastante em termos de participação no parlamento, e chegando a governar uma capital. Nós, do PSTU, tivemos algumas pequenas vitórias (2 vereadores) que nos orgulham muito, pois foram vitórias eleitorais de quem não participou do jogo sujo das eleições.

Em Blumenau talvez tenhamos que citar como novidade a ausência da candidata Ana Paula (PT) no segundo turno: algo a ser mais bem explicado com o tempo! Mas, de qualquer forma, a vitória do tucano Napoleão Bernardes deixa tudo tranqüilo para os empresários locais, da mesma forma que se Jean (PSD) ou Ana Paula tivessem ganhado, também a tranqüilidade seria o sentimento da burguesia.

Novidade mesmo, de verdade, foi apenas a presença de uma pequena candidatura a vereador: Giovani Zoboli! Sem pegar um centavo sequer de empreiteiros, industriais e comerciantes, esta candidatura dirigiu-se aos trabalhadores blumenauenses, de modo especial aos operários têxteis, aos funcionários dos correios e bancários em greve, e a juventude. Uma candidatura isolada das demais que se diferenciou pela defesa dos direitos dos homossexuais, da necessidade de organizar os trabalhadores de forma autônoma, da necessidade de mobilizações como saída para a realidade exploradora.


E isto já foi o suficiente para gerar a ira dos homofóbicos do poder constituído e dos patrões, que não se fizeram de rogados para tirarem do ar os poucos minutos de televisão a que o PSTU tinha direito. Está aí a prova cabal do que sempre dizemos: as eleições não são democráticas tanto quanto se fala! Que a violência seja tratada como algo corriqueiro nas novelas, isso não causa indignação a ninguém. Mas que um beijo gay seja mostrado no horário nobre, isso é escandaloso deve ser proibido pela moral vigente.

Os 268 votos na candidatura Giovani representam votos de quem não se deixa iludir pela falsa pregação de que as eleições resolverão os problemas dos trabalhadores, de que o voto é a saída “democrática”.

Novidade também foi a candidatura a prefeito lançada pelo PSOL em conjunto conosco. Desde muito tempo o PSOL falava em lançar o operário e líder sindical metalúrgico Hartmut Kraft para prefeito, chegando inclusive a dizer-nos que não abririam mão deste candidato. Uma vez que nós do PSTU aceitamos esta imposição, em nome de mantermos a unidade dos dois únicos partidos de esquerda de Blumenau, fomos surpreendidos com a mudança do nome do PSOL para Osni Wagner! Mais uma vez, resignados, aceitamos, pois o oposto seria a liquidação definitiva desta que seria a única possibilidade de termos uma candidatura em conjunto dos partidos socialistas locais.

Para nossa surpresa, uma das poucas novidades desta eleição em Blumenau se deu sob os nossos queixos: a candidatura Osni Wagner cumpriu um papel nefasto na conjuntura! Após várias “escorregadas” (reunião fechada com a ACIB, reiterados convites a Napoleão para ser secretário de governo, defesa de um programa burguês de desenvolvimento econômico e social, fatos estes que já seriam suficientes para que criticássemos a candidatura majoritária da Frente de Esquerda), ainda ficamos estupefatos com outras duas “pérolas”, quais sejam: a) A Candidatura Osni colocou-se de forma incondicional ao lado da homofobia no episódio da retirada do ar de nosso programa televisivo sobre as opressões; e b) Osni serviu de ajudante da candidatura petista e burguesa de Ana Paula nos dois últimos debates televisivos.

Ainda que sem a ajuda financeira da burguesia (o que merece um aparte elogioso), o fato é que a candidatura Osni Wagner para prefeito cumpriu em Blumenau a mesma trajetória e o mesmo papel de outras candidaturas majoritárias do PSOL na maioria das cidades brasileiras: o caminho da guinada á direita para o sucesso eleitoral! Em outras cidades, de modo especial em Belém e em Macapá, este partido não só sustentou suas candidaturas com dinheiro burguês, como também se aliou ao PT de Dilma e Lula, ao DEM, ao PTB de Collor, ao PMDB de Sarney e ao PSDB de FHC. Em Blumenau, não foi diferente! Lamentamos que tenha sido assim, lamentamos que não tenhamos tido forças para evitar que isto ocorresse sob os nossos olhares de espanto!

Para nós do PSTU, CONCLUIDO O TEATRO ELEITORAL, A VIDA (E, PORTANTO, A LUTA) CONTINUA! VENHA CONOSCO!


Blumenau, 15 de novembro de 2012

Dia de greve geral mobiliza trabalhadores de 23 países da Europa

14N Huelga General - plaza Colón, Madrid!

Greve contra os cortes da troika e a política de austeridade dos governos é forte em Portugal, no Estado Espanhol, e atinge também Grécia e Itália


Greve geral parou Portugal nesse 14 de novembro
• O dia de greve geral unificada na Europa neste 14 de novembro já pode ser considerado um marco na luta dos trabalhadores europeus contra a política de cortes e austeridade imposta pela troika (Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia). Inicialmente convocada em Portugal, ela teve adesão no Estado Espanhol e posteriormente na Grécia, que realizou greve parcial de 3 horas, e Itália (que paralisou por 4 horas). O 14-N contou ainda com mobilizações na Inglaterra, França e em pelo menos 23 países do continente.

Maior greve de Portugal
Em Portugal, a CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses) estima que o 14-N tenha sido “uma das maiores greves gerais já realizadas” no país. Apesar da outra grande central no país, a UGT, ter se negado a convocar a greve, vários sindicatos da base aderiram à paralisação contra os cortes do governo de Passos Coelho.

Como ocorre tradicionalmente, o setor dos transportes foi a vanguarda da greve, que teve também a participação dos trabalhadores bancários, o que não havia acontecido nas greves anteriores. Os serviços públicos, escolas e universidades também pararam quase que completamente no país. Cerca de 200 vôos foram cancelados devido à greve. Ao final do dia, a polícia reprimiu violentamente os manifestantes que protestavam próximo ao Parlamento.

A greve geral em Portugal ocorre no mesmo dia em que é anunciado o mais novo recorde nos índices de desemprego do país, de 15,8% da população. Entre os jovens (entre 15 e 24 anos), essa situação é ainda mais dramática, atingindo 39% dos portugueses. Apesar disso, o governo aprofunda sua política de cortes e flexibilização de direitos.

Mobilização e repressão no Estado Espanhol
O 14-N começou forte também no Estado Espanhol. As centrais sindicais estimam a adesão à greve geral em mais de 75%, o que significa quase seis milhões de trabalhadores de braços cruzados em todo o país. A paralisação atingiu principalmente a grande indústria, com impactos importantes na siderurgia, indústria química e construção. O setor dos transportes e público também parou. Pelo menos 202 vôos foram cancelados.

A greve geral no Estado Espanhol se enfrentou com a repressão policial, como em Madri e Barcelona, com o saldo de 82 feridos e 34 detidos até o fechamento desse texto.

Repressão a protesto em Madri


Enquanto as centrais sindicais CCOO (Comisiones Obreras) e UGT (Union General de Trabajadores) reivindicam um programa rebaixado, como a convocação de um referendo sobre os cortes e a exigência de uma “negociação” entre o governo de Mariano Rajoy e o congresso, o sindicalismo classista e alternativo se lança à greve exigindo o não pagamento da dívida, o fim dos cortes, não ao pacto social e a “demissão” do governo.

Em Madri, a plataforma "Toma la Huelga" (que reúne grupos como o 15-M e a coordenação do 25-S) fez um chamado para que a greve não se limite aos locais de trabalho, mas para que se ampliem e parem toda a cidade. A convocatória insta ainda o cercamento do Congresso no final do dia.

Estudantes promovem marcha em Roma

Mobilizações estudantis e repressão na Itália
O dia foi também de fortes protestos na Itália. Milhares de estudantes foram às ruas contra os cortes na Educação em 87 cidades no país. Houve repressão e enfrentamentos com a polícia em cidades como Roma, Turín e Milão.

Apesar das limitações e bloqueios interpostos pelas burocracias das cúpulas sindicais, o 14-N representa a primeira ação de resistência articulado e unificado entre os países da Europa, colocando a resposta dos trabalhadores à crise num novo e inédito patamar.





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Valério Arcary escreve sobre o 14-N: o dia em que o internacionalismo ressurge como força social e política

Trabalhadores de vários países da América do Sul manifestam-se em apoio ao 14N

www.litci.org/pt

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ativista da Revolução Síria Sara Al Suri fala sobre a ditadura de Bashir Al Assad




Ativista da revolução síria faz maratona de debates pelo país

A militante da revolução síria Sara Al Suri está no país e vai participar de uma série de debates sobre a insurreição que enfrenta a ditadura de Bashir Al Assad. Sara vai relatar a luta do povo sírio contra a ditadura, o massacre perpetrado pela família Assad, além do caráter e das polêmicas que rondam a oposição síria e o Exército Livre da Síria.

O tema da revolução síria está sendo alvo de polêmicas na esquerda mundial, já que uma parcela importante como o castro-chavismo e setores islâmicos como o Hezbollah, prestam apoio à ditadura. Ou seja, além da dura repressão da ditadura Assad, os ativistas sírios enfrentam um lamentável isolamento na esquerda mundial.

Convidada pela CSP-Conlutas e outras entidades, Sara vai estar no próximo dia 8 de novembro no Rio de Janeiro, dia 9 em Belo Horizonte, e dia 10 em São Paulo. No dia 13 participa de um debate em São JOsé dos Campos (SP) e dia 17 da Assembleia nacional da ANEL, em Maceió.

Outras atividades ainda estão sendo agendadas.

Confira a programação:

  • Dia 8 de novembro, Rio de Janeiro: O debate ocorre às 18h30 na rua Joaquim Silva, 98-A, sede do Sindsprev-RJ.
  • Dia 9 de novembro, Belo Horizonte: Na capital mineira, o debate ocorre às 11h na Fafich (UFMG) e às 19h, no Sind-Rede, na Av. Amazonas 491, 10º andar, no centro.
  • Dia 10 de novembro, em São Paulo, durante a reunião estadual da CSP-Conlutas
  • Dia 13 de novembro o debate ocorre em São José dos Campos
  • Dia 17 em Maceió Durante a Assembleia Nacional da ANEL. Universidade Federal de Alagoas- (UFAL)
  • De 19 a 23/11 - Nordeste
  • Dias 27 e 28/11 – Brasília
  • De 29/11 a 03/12 – Porto Alegre: Fórum Social Mundial / Palestina
  • Dia 4/12 – Florianópolis (SC)
  • Dia 5/12 – Curitiba (PR)
  • Dias 10 a 13/12 – Região Norte, incluindo o Maranhão (NE)


(Última atualização 07/11)

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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Algumas palavras do povo Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul





Réquiem para um trânsfuga

José Dirceu, ex-líder estudantil e ex-guerrilheiro
Zé Dirceu passou para o lado do inimigo, apoiou a reforma da Previdência e, por fim, meteu-se em um caso de corrupção

Jerônimo Castro, de Contagem (MG)

• O julgamento do mensalão está chegando ao fim. O resultado final será a condenação de quase toda a antiga cúpula política do PT, bem como de várias de suas figuras públicas. Com a exceção de Lula.

O motivo da condenação parece legítimo: corrupção ativa, compra de votos no parlamento, desvio de dinheiro público e um longo etc. Uma boa parte da grande imprensa apresenta as condenações como um novo momento da política brasileira. Finalmente, dizem, os casos de corrupção são julgados e os corruptos condenados, podendo inclusive ir para a cadeia.

Os juízes do Supremo Tribunal Federal que estão à frente do julgamento são apresentados como heróis que enfrentam a corrupção e os poderosos em uma tentativa de “passar o Brasil a limpo”. No entanto, parece necessário fazer uma análise mais profunda de todo o processo e de seus condenados. Não apenas de sua trajetória política, mas inclusive a serviço do quê eles corromperam ou foram corrompidos.

O mais notório dos condenados, José Dirceu, tem uma das mais notáveis biografias políticas do Brasil. Líder estudantil no começo da ditadura, preso no congresso da UNEne de Ibiúna, trocado pelo embaixador Charles Burke Elbrick em Setembro de 1969, exilado em Cuba, fez treinamento guerrilheiro e virou dirigente da fração esquerdista da ALN, conhecida como Grupo Primavera, que preconizava a volta para o Brasil e a continuidade das ações militares contra a ditadura.

Desapareceu do cenário político em meado dos anos 70, escondendo-se no interior do Paraná onde levou uma vida clandestina na pequena cidade de Cruzeiro do Oeste. Incólume, nem mesmo sua esposa sabia sua verdadeira identidade. Com o fim da ditadura e a anistia voltou à cena para ajudar a fundar o Partido dos Trabalhadores.

Neste partido dirigirá sua fração mais à direita, a Articulação, e será sempre o homem que busca um programa moderado e que dialogue com setores burgueses. Vai ser José Dirceu quem perseguirá até à expulsão a Convergência Socialista, será o mesmo José Dirceu quem defenderá à época do plano cruzado de José Sarney que o PT deve ser a ala esquerda dos “fiscais do Sarney”. Será José Dirceu que lutará até conseguir a frente com José Alencar para as eleições de 2002.

No poder, será o ministro da Casa Civil e, segundo alguns, a eminência parda do governo Lula.

Se alguém pode ganhar o prêmio por domesticar o PT, transformá-lo em partido da ordem e em baluarte do regime democrático burguês, esse alguém, sem sombra de dúvida, é José Dirceu. Mais incrível ainda, uma das mais importantes compras de votos feita pelo esquema de José Dirceu foi justamente para aprovar a reforma da Previdência Social, um ataque brutal contra os trabalhadores e amplamente apoiado pela burguesia e a sua mídia.

Por outro lado não é necessário ter muita inteligência nem ser um “expert” em política para se dar conta que somente um lado está sendo julgado. O PSDB e o PMDB têm muito mais culpa no cartório, ou pelo menos tanta culpa quanto o PT e seus ex-dirigentes agora condenados. A pergunta é, por quê?

A Burguesia não perdoa nem esquece
A condenação de Zé Dirceu não tem a ver com seu presente. Atualmente, poucos políticos fizeram tanto pela estabilidade da dominação burguesa e pela defesa do status quo vigente.

Também é indiscutível que Zé Dirceu não é mais corrupto que a maioria dos grandes políticos burgueses tradicionais. Maracutaias como a das privatizações, da reeleição de FHC, entre outras, deixam claro que o pudor da burguesia em relação à roubalheira do Estado é nula ou muito próxima a isso.

No entanto, Zé Dirceu e uma parte de seus comparsas no mensalão têm um passado. E é isso que é necessário matar. Diferentemente dos demais corruptos do país, públicos e privados, ativos e passivos, José Dirceu é uma nota dissonante na política brasileira, não pelo seu presente, integrado à ordem, mas por seu passado de dirigente estudantil, líder guerrilheiro e organizador de um partido, que em suas origens esteve contra a ordem vigente.

A burguesia, como todos os setores dirigentes, prefere sempre corromper e cooptar seus inimigos a liquidá-los. Um ex-inimigo domesticado é sempre um troféu melhor que um ex-inimigo morto. Na política essa verdade tem, digamos, uma dimensão ainda mais ampla. Corromper e cooptar um dirigente inimigo significa não apenas ganhar um novo “aliado” e enfraquecer a parte contrária, significa também desmoralizar as “tropas” inimigas. Quando se trata de um enfrentamento onde não são meramente setores distintos de uma mesma classe que se enfrentam, mas onde os “inimigos” representam, ainda que apenas no imaginário das classes, a classes opostas, esta conquista, o ato de cooptar ou corromper a um dirigente inimigo toma uma dimensão ainda maior.

Diferentemente da burguesia, o proletariado forma muito menos quadros e dirigentes. Isso é inevitável na sociedade capitalista. A classe trabalhadora é embrutecida permanentemente com drogas, religião, novelas, publicações de baixa qualidade, todo tipo de pornografia, etc. Por outro lado a qualidade do ensino que lhe é oferecida é cada vez mais baixa e tecnificante. Para cada quadro formado na sociedade burguesa que se passa para, ou tem origem no proletariado, deve haver centenas que são de origem burguesa e continuarão a servir à burguesia.

O peso de um quadro operário, dedicado à causa da classe trabalhadora, dentro do movimento operário é muito superior ao peso de um quadro burguês dedicado à causa burguesa. A escassez também é um elemento da valorização de qualquer produto. Quando um destes quadros dirigentes cai, é inevitável que o lado oposto se regozije. Mas é necessário não criar mitos. Um morto sempre é um símbolo, o perseguido de hoje será o mártir inspirador de amanhã.

José Dirceu foi, pois, o trânsfuga perfeito. Passou-se para o lado do inimigo, apoiou coisas tais como a contra-reforma da Previdência, perseguiu a esquerda de seu próprio partido e, finalmente, meteu-se em um dos mais asquerosos processos de corrupção da história do país. O trânsfuga prestou este último serviço à burguesia, o de desmoralizar seu próprio exército antes da já inevitável queda. José Dirceu cumpriu o triste papel de confirmar aos olhos da classe trabalhadora a máxima, que a burguesia se esforça para legitimar, de que “são todos iguais” e de que no fim das contas todos os políticos só pensam em si mesmos.

A queda de José Dirceu, inevitavelmente, arrasta consigo uma parte das melhores esperanças de classe trabalhadora: a de que seus representantes fariam outro tipo de política.

Sem romper com a burguesia não há solução para a corrupção
O degradante espetáculo público do julgamento do STF, que já foi chamado com razão de BBB, e junto com ele a ridícula caricatura dos juízes togados tentando se colocar acima do lamaçal da sociedade burguesa, entorpecerá mais de um coração nestes dias.

Já há quem fale que Joaquim Barbosa deveria ser candidato a presidente da República. O sistema se recria todos os dias. Os mensaleiros do PT ajudaram a que este triste espetáculo pudesse ser representado sem que a burguesia precisasse cortar mais profundamente entre seus quadros prediletos.

No entanto, para além dos efeitos imediatos, é bom que a esquerda, em especial aquela que se julga revolucionária, e mais ainda a nova esquerda “post” PT, tire lições da adaptação parlamentar e do vale tudo eleitoral.

Acreditar que é possível ganhar eleições e governar junto com a burguesia e não ver que isso levará inevitavelmente a usar e se misturar com seus métodos de fazer política, leiam-se corrupção, chantagem e roubo, é no mínimo ingenuidade. E como dizia Lênin, “em política ingenuidade é crime”.

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