domingo, 16 de dezembro de 2012

Ato dos 30 anos da LIT: Blumenau presente!

Ato dos 30 anos da LIT reúne mais de 800 em Buenos Aires

Um dia para entrar na história. Não só na história da Liga Internacional dos Trabalhadores, mas de todas as mais de 800 pessoas que lotaram o salão Unione Benevolenza, em Buenos Aires. Um local que diz muito. "Esse é um espaço tradicional da classe operária argentina", destacou Alicia Sagra, dirigente trotsquista argentina que conduziu o ato de comemoração dos 30 anos da LIT.

Um ato que já começou arrancando lágrimas dos presentes. Após a exibição de um vídeo resumo do documentário sobre a história da LIT, bandeiras dos partidos que compõem a Liga entraram no salão, sendo agitadas sob os aplausos das centenas de pessoas, entre argentinos, brasileiros, chilenos, colombianos, e ativistas de várias nacionalidades que convergiram a Buenos Aires nesse 1 de dezembro.

Logo no início do ato, a ativista palestina radicada no Brasil, Soraya Misleh, anunciou a sua filiação ao PSTU e à LIT. Não conseguindo conter as lágrimas, Soraya disse que já começou a se emocionar assim que chegou ao aeroporto, para ir a Buenos Aires. "Encontrei uma palestina de Gaza e uma companheira da Cisjordânia, e esse encontro nunca seria possível, pois quem está em Gaza não pode visitar a Cisjordânia e eu não posso ir a Palestina pois estou na luta".

Soraya falou sobre a luta e os desafios do povo palestino: "O futuro da Palestina está nas mãos da juventude, mas ainda falta uma direção revolucionária". Também tocou no tema das revoluções árabes, cujo pólo principal hoje é a revolução síria. "O caminho da libertação da Palestina passa pela revolução árabe e a queda de Bashar Al Assad será um grande passo nesse sentido".

Eduardo Almeida, da direção do PSTU brasileiro, lembrou de um outro momento, também em Buenos Aires, há 25 anos atrás, quando da morte de Moreno e do início da crise que abalou a LIT. "Estávamos tristes, mas hoje estamos em Buenos Aires e estamos felizes". Eduardo citou o processo de fortalecimento da LIT e a expansão da Liga para os países da Europa, como Portugal Itália e Espanha e a intervenção desses partidos no atual processo de mobilização contra os planos de austeridade.

Eduardo citou ainda a importância do patrimônio moral que a LIT resguarda, assim como os príncípios do marxismo, num momento em que grande parte da esquerda socialista abandona a perspectiva da revolução.

"Esta é a maior homenagem que podemos fazer a Nahuel Moreno", discursou Eduardo Barragán, da direção do PSTU argentino. Barragán citou as atuais lutas dos trabalhadores europeus e as revoluções do Norte da África, que mostram hoje mais do que nunca a necessidade do internacionalismo e de uma direção revolucionária que permita que a classe operária "golpeia como um só homem a ofensiva do imperialismo e os ataques da burguesia".

Vera Lúcia, do PSTU de Aracaju, emocionou a todos falando sobre a necessidade da luta contra as opressões. "Gostaria de estar falando espanhol aqui, mas eu, assim como grande parte da classe trabalhadora, não tive condições de ter instrução", disse, enfatizando a condição de superexploração a que estão submetidas as mulheres, negras e lésbicas. Ao final de sua fala, todos puxaram um coro: "A nossa luta/é todo dia/contra o machismo, o racismo e a homofobia".


O final do ato ficou por conta de Angel Luís Parras, o Cabeças, da direção do Corriente Roja da Espanha e da LIT. "A situação atual é muito complicada, mas muito apaixonante", afirmou."Temos assistido a explosão das revoluções do Norte da África e Oriente, fruto da crise econômica e ascenso popular, mas também fruto dessa mudança que foi o fim do aparato estalinista. Submetidos à miséria e à ditadura, os povos irromperam o cenário político", citando a crise na Europa e as revoluções do Norte da África.

Cabeças atacou a posição de grande parte da esquerda e do castro-chavismo, de apoio ao ditador Assad na Síria. "Dizem que há uma unidade de ação entre os rebeldes e o imperialismo. Mas claro que houve. A mesma unidade de ação que houve no desembarque dos aliados na Normandia e os partisanos contra Mussolini".

"Neste ato, queremos enviar uma saudação a nossos detratores: sigam convocando atos em defesa de Assad, pois a LIT continuará na resistência" provocou Cabeças.

Cabeças finalizou citando a fé revolucionária que a LIT mantém na classe operária, a mesma esperança que a permitiu passar por crises e dificuldades, e que a possibilita agora, em plena crise do capitalismo, crescer e se fortalecer em vários países do mundo.

Veja os vídeos do Ato e entrevistas com militantes de vários países:



www.youtube.com/PortaldoPSTU


Veja as fotos do Ato: www.facebook.com/media/set/?set=a.378617748895528.90461.207518726005432&type=3

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A revolução Síria: não perguntes por quem os os sinos dobram

Valerio Arcary

“Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo (…) E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” (John Donne)
“Será necessário que se reúnam condições completamente excepcionais, independentes da vontade dos homens ou dos partidos, para libertar o descontentamento das cadeias do conservadorismo e levar as massas à insurreição. Portanto, essas mudanças rápidas que as idéias e o estado de espírito das massas vivem nas épocas revolucionárias não são um produto da elasticidade e mobilidade da psíque humana, mas, ao contrário, de seu profundo conservadorismo(…) As distintas etapas do processo revolucionário, consolidadas pelo deslocamento de uns partidos por outros, cada vez más radicais, sinalizam a pressão crescente das massas para  a esquerda, até que o impulso adquirido pelo movimento tropeça com obstáculos objetivos. Então começa a reação: decepção de certos setores da classe revolucionária, difusão da apatia.” (Leon Trotsky)


O ano de 2011 inaugurou uma nova situação internacional com a onda de revoluções políticas no Magreb, transbordando em poucos meses para os países de língua árabe do Oriente Médio. Quando uma ordem econômica, social e política revela incapacidade para realizar mudanças por métodos de negociação, concertação ou reformas, as forças sociais interessadas em resolver a crise de forma progressiva recorrem aos métodos da revolução para impôr a satisfação de suas reivindicações. Essa foi a forma que assumiu a defesa de interesses de classe na história contemporânea.

Duas conclusões se impõem de forma irrefutável ao final de quase dois anos. Primeiro, o que aconteceu nas ruas de Túnis e Cairo, depois na Líbia, Bahrein, Yemen, e Síria, merece ser considerado como revolução no sentido pleno do conceito: uma irrupção representativa da vontade popular, com o objetivo de derrubar ditaduras corrompidas, regimes monstruosos de frações degeneradas de burguesias nacionais instaladas no poder há décadas.

Segundo, o processo revolucionário se estendeu na forma de uma vaga sincronizada que foi contaminando, em maior ou menor medida, a maioria dos países da região, pelo efeito arrebatador do exemplo das vitórias fulminantes na Tunísia e Egito. Que na Líbia e Síria a dinâmica do processo tenha evoluído para uma guerra civil nos diz mais sobre a contra-revolução do que sobre a revolução. Uma revolução que luta com armas nas mãos não é menos legítima, é mais heroica. Na Síria não está somente em disputa o destino da ditadura do clã Assad. Nas ruas de Damasco estão se dando neste momento combates cruciais para o futuro da revolução mundial.

Uma contra-revolução mundial
Já se disse que as próximas revoluções serão sempre mais difíceis que as últimas, porque a contra-revolução aprende depressa. A contra-revolução burguesa foi um dos fenômenos de dimensão mundial do século XX. As revoluções contemporâneas manifestam-se como revoluções na esfera nacional, mas esta aparência é uma ilusão de ótica que remete à centralidade da luta política imediata contra o Estado. As revoluções do século XX não enfrentaram somente os seus inimigos nacionais imediatos, mas a contra-revolução à escala internacional. As do século XXI terão desafios ainda mais complexos, e o primeiro deles é a necessidade do internacionalismo.

Os Estados se definem pela vigência das fronteiras nacionais, todavia a dominação mundial capitalista foi se estruturando, crescentemente, sobre uma institucionalidade mundial: o sistema internacional de Estados, ou seja, ONU, a Tríade (Estados Unidos, União Européia, Japão), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o G-8, o G-20, o Banco Mundial, o Banco de Compensações Internacionais de Basileia, etc.

As revoluções contemporâneas estiveram inseridas, desde o fim da Primeira Guerra Mundial, em contextos, pelo menos, regionais, ou semi-continentais, e assumiram a forma de ondas de expansão que cruzaram mais ou menos rapidamente as fonteiras nacionais. Por isso as revoluções contemporâneas merecem ser caracterizadas como processos de refração da revolução mundial.

A revolução mais recente pode ser interpretada, portanto, como “o futuro de um passado”, e começa onde a última foi interrompida. O ano de 2012 foi o ano em que a revolução na Síria chegou à sua hora decisiva. Combates se travam diariamente nas ruas de Damasco. Esta revolução incompreendida pela maioria da esquerda brasileira vive as suas horas decisivas. A solidariedade maior a Gaza durante as duas últimas semanas de novembro de 2012 demonstrou que está aumentando o isolamento político de Israel, e potencializando a resistência palestina. Os governos da França e Reino Unido se apressam a compreender a nova relação de forças e sinalizam a disposição de votar a favor de um novo estatuto para a Autoridade Palestina na ONU, contrariando o alinhamento incondicional dos Estados Unidos com Israel. A queda de Kadafi, portanto, não diminuiu a disposição de apoio à causa palestina na Líbia, ao contrário, aumentou. Não será diferente na Síria.

Fevereiros heróicos, mas intervalos mais longos até Outubros
Mas afirmar que têm sido revoluções políticas democráticas significa dizer, também, que não só não realizaram rupturas anticapitalistas, como destacar que a participação política dos trabalhadores não ocorreu ainda, predominantemente, de forma independente. Ou seja, remetendo a uma metáfora histórica ancorada na experiência da revolução russa, estamos diante de Fevereiros muito difíceis que sugerem ainda um longo intervalo antes que possam ocorrer Outubros.

Estas formas da revolução árabe não foram, historicamente, incomuns. As ditaduras do Cone Sul da América Latina – Argentina, Uruguay e Brasil – foram, também, desafiadas por mobilizações de massas entre 1982/1984. Estes processos sugerem que existe um padrão recorrente, se analisarmos a dinâmica política da época contemporânea. Parecem corresponder a duas regularidades:

(a) regimes ditatoriais em países periféricos em processo de urbanização podem se manter no poder, até por algumas décadas, mas serão derrubados por revoluções democráticas, mais cedo ou mais tarde, pelo surgimento de um bloco social muito mais poderoso do que a oligarquia arcaica que os sustentou: um  proletariado e uma classe média asssalariada plebéia massiva. A questão decisiva é se este bloco é dirigido pelo proletariado ou por frações burguesas dissidentes e seus aliados internacionais;

(b) o efeito exemplo do triunfo de uma revolução democrática, em uma época histórica em que a informação circula quase instantaneamente, acelerou a experiência política de massas, e funcionou como um gatilho que incendiou os países da região vizinha, produzindo uma internacionalização rápida da revolução.

A urgência da revolução
A história, contudo, não é sujeito, mas processo. O seu conteúdo é uma luta. Essa luta assume variadas intensidades. A revolução política é uma dessas formas, e a frequência maior ou menor em que ela se manifesta é um indicador do período histórico. Todas as revoluções contemporâneas tiveram uma dinâmica anticapitalista, maior ou menor, mas não foram todas elas revoluções, socialmente, proletárias. Todas as revoluções socialistas da história começaram como revoluções políticas, ou como revoluções democráticas, mas nem todas as revoluções democráticas transbordaram em revoluções sociais.


Estará em disputa a possibilidade da revolução no norte da África e do Oriente Médio abrir o caminho para segundas independências, com todas as sequelas que teria a perda de controle do imperialismo sobre as maiores fontes de abastecimento de petróleo, mas, também, a destruição das políticas públicas de bem estar social que ainda estão de pé na Europa Ocidental, ou a redução da Grécia, Portugal e, talvez, até da Espanha à condição de semi-colônias do eixo franco-alemão na União Européia.

O que condicionou, historicamente, a possibilidade de revoluções foi a pressão objetiva de crises de dimensões catastróficas. Mas, só a existência de crises nunca foi o bastante para que se iniciassem processos revolucionários.

Foi indispensável, igualmente, que a mentalidade de milhões de pessoas fosse sacudida pela experiência terrível de que não existiria mais esperança em saídas individuais. Somente quando a nova geração acordou para a inescapável constatação de que teria que aceitar condições de sobrevivência inferiores às dos seus pais, ou seja, somente quando o que era inacreditável em condições normais se impôs de forma incontornável, se precipitaram situações revolucionárias. A urgência da revolução voltou a ter significado político imediato. Mas não autoriza a conclusão de que o socialismo está mais perto. A luta pelo socialismo requer mais do que ações revolucionários contra o governo e regime no poder: exige protagonismo proletário independente e projeto internacionalista.

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