sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Carta aberta aos companheiros do PCB e do PSOL: por uma frente de esquerda e Socialista!

Nas eleições, juntemos nossas forças para criar uma alternativa de esquerda que defenda nas eleições as reivindicações das mobilizações!

Gilmar Salgado, do PSTU


Nas eleições desse ano a esquerda terá uma oportunidade ímpar de se apresentar de forma ampla como uma alternativa absolutamente diferenciada dos atuais governos Dilma e Colombo. Durante quase uma dezena de anos, os trabalhadores e a juventude do Brasil foram levados a crer que tínhamos um governo de esquerda, que tinha preocupações sociais e que estava ajudando os setores mais empobrecidos da nossa população.

Através dessa máscara e apoiados não só pela maioria da grande burguesia, com seus poderosos meios de comunicação, mas também pela ampla maioria das entidades dos trabalhadores, a exemplo dos sindicatos, centrais sindicais e entidades estudantis (destaque para CUT, CTB e UNE) o governo do PT aplicou uma implacável politica neoliberal.

Apesar de ser uma politica econômica antipopular, o governo manteve-se fortemente apoiado pela população, o que possibilitou que aplicasse suas políticas compensatórias mínimas, estipuladas pelo FMI, bem como outras, que foram anunciadas como políticas avançadas (bolsa família, valorização relativa do salário mínimo, PROUNI, etc). Porém, todo este apoio só foi possível – dentro dessa política econômica – devido à situação de forte crescimento econômico a nível internacional. A essas migalhas dadas pelas politicas de compensação social, somava-se o grande aumento do número de empregos gerados pelo crescimento econômico mundial. Apesar de esses empregos serem muito precarizados, trouxeram um alivio à situação anterior de desemprego altíssimo (era FHC), e o governo tratou de capitalizar como sendo obra sua.

Entretanto, a deterioração da situação econômica mundial, inevitável no sistema capitalista, vem mudando essa situação. Mesmo que o Brasil ainda não esteja sofrendo os efeitos mais fortes da crise, a situação de desaceleração do crescimento já criou uma nova percepção em amplos setores da população. A tão propalada melhora da situação está na verdade se esvaindo em uma desesperança e mal estar generalizado.

Ressurgem, para espanto de muitos, com muita força, novas mobilizações que movimentam milhões. O governo Dilma já deixou claro o caminho que optou para enfrentar essa nova situação: mais privatizações, ataques às conquistas dos trabalhadores (novas reformas da previdência e trabalhista), sucateamento dos serviços públicos para pagar juros aos banqueiros e outros agiotas e, finalmente, uma repressão generalizada, juntamente com os governadores estaduais, que culminou na criminalização dos movimentos sociais e populares.

Porém, qual a direção podem tomar estas justas lutas? Não é só a repressão burguesa que o ameaça, há também o perigo de ele se dirigir para saídas estéreis que o levem há algum beco sem saída. Por isso, dar uma saída positiva para essas lutas é uma tarefa fundamental dos socialistas e a formação de uma frente de esquerda seria um enorme passo nesse sentido. Essa frente pode canalizar as esperanças de milhões de jovens e trabalhadores brasileiros, pois somente aqueles que não estão comprometidos com os governos que estão aí podem dar essa saída.

Claro que seremos duramente atacados pelo governismo, que antes nos chamava de sectários por não apoiá-los e que agora nos perseguem dizendo que estamos fazendo o jogo da direita. Todavia, como bem o sabemos, quem na verdade continua a ter o apoio da ampla maioria da direita são os governos do PT e do PCdoB, basta ver com que vontade Colombo quer a coligação com eles, colocando-se, inclusive, a serviço da reeleição de Dilma, vontade, aliás, totalmente correspondida pelas direções do PT e PCdoB.

Uma frente de esquerda, socialista e classista tem grande potencial de aglutinar movimentos sociais e sindicatos em torno da construção de um programa que aponte para a ruptura com o imperialismo e o capitalismo e defenda a necessidade da construção de uma sociedade socialista. Esta Frente de Esquerda deve dar corpo à insatisfação dos trabalhadores e do povo pobre com tudo o que aí está. Deve defender um programa que aponte as mudanças profundas que são necessárias fazer. Neste sentido, destacamos 07 pontos programáticos fundamentais para construção da frente:

– Aumento geral de salários e redução da jornada de trabalho! Rumo ao salário mínimo do Dieese! Congelamento e redução de preços;
– Estatização das grandes empresas e do sistema financeiro e o não pagamento da dívida pública para investir mais em transporte, educação e saúde pública de qualidade. Fim dos gastos excessivos com a Copa do Mundo e Olimpíadas e dos benefícios fiscais e financeiros às grandes empresas. Por um plano econômico dos trabalhadores;
– Reformas urbana e agrária a serem realizadas de maneira ampla e sob controle da classe trabalhadora;
– Não à agressão militar do governo brasileiro ao Haiti, que lidera uma ocupação militar neste país;
– Denunciar as instituições desta democracia dos ricos que só serve para propagar a corrupção e multiplicar os lucros dos grandes empresários;
– Contra a repressão aos movimentos sociais e a criminalização da pobreza. Pela desmilitarização da Polícia, o fim da PM e das Tropas de Choque e a criação de uma nova Guarda Civil unificada, democrática e sob controle dos trabalhadores;
– Oposição de esquerda aos governos e apoio a todas as greves, lutas, ocupações e movimentos que combatem o machismo, racismo e homofobia;
– Contra as privatizações das Empresas e serviços públicos e pela reestatização das empresas privadas nos Governos Collor, FHC, Lula e Dilma.


Todavia, a mudança não deve se pautar somente no programa da frente; deve começar por seus princípios e por sua forma de existir: devemos romper com os erros acumulados por anos e anos na esquerda brasileira, que pavimentaram a ascensão do PT/PC doB até esse tipo de governo que aí está.

Em primeiro lugar, não podemos admitir, sob hipótese alguma, aliança(s) com partidos da burguesia, bem como qualquer forma de financiamento de campanhas eleitorais junto aos empresários. Devemos nos voltar orgulhosamente à máxima da 1a Internacional, na qual “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”.

Outra questão fundamental é o respeito à pluralidade e à democracia nas decisões. Tem que se estabelecer um diálogo que nos leve a uma Frente de Esquerda que respeite o peso e a representação social de cada partido na divisão das candidaturas majoritárias e do tempo de TV. Neste sentido, queremos fazer um debate franco com os companheiros do PSOL. Achamos que se equivocam os companheiros em práticas como as que agora vemos a nível nacional, onde querem impor a chapa majoritária exclusivamente de seu partido.

Acreditamos que os companheiros ainda podem mudar essa prática para viabilizar uma Frente de Esquerda. Queremos, em especial, chamar os companheiros do PCB – que no último período têm se colocado ativamente em importantes lutas que estão ocorrendo em nossa região – que não deixem de participar ativamente nesse debate. Temos certeza e convicção que irão enriquecê-lo.

Para Santa Catarina a realização dessa frente apresentaria nas eleições desse ano a única oposição de verdade ao governo de Raimundo Colombo, pois, como sabemos, se o PT não se coligar a este, lançará apenas uma candidatura que na prática o ajudará a se reeleger. É a chamada coligação branca. Fazem isso porque há muita crise em sua base e assim trabalham para melhor enganar suas próprias bases. Nós devemos aproveitar essa situação para solidificar uma alternativa classista e socialista nas eleições.